sexta-feira, 15 de outubro de 2010

O perigo da lama tóxica

Episódio que contaminou e matou sete pessoas na Hungria pode muito bem se repetir no Maranhão

Este texto foi produzido pelo jornal Vias de Fato (http://www.viasdefato.jor.br), dos colegas Alice Pires, Altemar Moraes, Cesar Teixeira, Elmo Cordeiro e Emilio Azevedo.

Estou reproduzindo porque o assunto é bem sério e como tal, merece ser amplamente conhecido para que um debate mais aprofundado seja realizado.


Alumar representa uma ameaça para São Luis

Um problema ocorrido recentemente na Europa, neste começo de outubro, deve ser motivo de alerta para toda a população de São Luís e para nossas autoridades públicas municipais, estaduais e federais. Na Hungria, num vilarejo chamado Kolontar, houve um vazamento da chamada “lama vermelha”, o mesmo resíduo tóxico que há 15 anos é enterrado no subsolo de São Luís pela ALUMAR/ALCOA, sem qualquer fiscalização confiável.

O vazamento na Europa foi causado por uma ruptura no reservatório de produtos tóxicos. Até o dia de hoje, vários jornais do Brasil noticiaram a morte de sete pessoas e o ferimento de outras 150. A lama tóxica também danificou casas, ruas, plantações e poluiu fontes de água, provocando a morte de todos (TODOS!) os organismos presentes no rio Marcal, um afluente do rio Danúbio, o segundo maior da Europa. Existe também o risco dos metais pesados contaminarem o ar provocando doenças pulmonares nas pessoas. O governo de lá acredita que o muro todo do reservatório desabe, liberando uma nova onda de lama vermelha.

Lá, o governo já anuncia que os responsáveis enfrentarão "consequências muito sérias”. Aqui, em São Luís, as autoridades puxam o saco da ALUMAR da forma mais desavergonhada. E esta mesma ALUMAR, cala a boca de meio mundo de gente a custa de míseros patrocínios. Os chamados poderes constituídos, no Maranhão, são subservientes com esta multinacional, para não dizer coisa pior.

Estamos falando principalmente de Governo, Prefeitura, Assembléia Legislativa, Câmara Municipal e amplos setores da imprensa. Até o presidente Lula, quando veio ao Maranhão abrir a campanha micareta de Roseana (em dezembro do ano passado) plantou, de joelhos, uma árvore no terreno da Alumar. Isto sob os aplausos da inquilina do Palácio dos Leões (Roseana), do prefeito de São Luís, João Castelo (PSDB), do presidente da Câmara Municipal (Pereirinha) e do Sistema Mirante/Globo.

O Consórcio Alumar, um dos maiores produtores de alumínio do mundo, é dono de algo em torno de 10% da ilha de São Luís e precisa ser fiscalizado. Muito bem fiscalizado! Recentemente, foi anunciado com festa pelo poder público local, que eles estão aumentado sua produção de 1,5 milhões de toneladas ano, para 3,5 milhões. Isto representa seis milhões de toneladas a mais de lama vermelha (que inclui soda cáustica) que serão enterradas todos os anos no solo da ilha de São Luís.

Será que este paquiderme do capitalismo internacional não deve ser muito bem fiscalizado? Hoje, na realidade, ninguém sabe quais os reais impactos que a Alumar já provocou na Ilha de São Luis e em sua população!

Na propaganda oficial é dito que ela “estrutura o seu modelo de negócios apoiada no conceito de sustentabilidade, incorporando no seu dia-a-dia critérios que asseguram o sucesso econômico, a excelência ambiental e a responsabilidade social”. Estas são as belas palavras do site da ALCOA, importante integrante do Consórcio Alumar. Ainda no mesmo discurso consta que “o seu sistema de gestão busca melhorar as condições de saúde, segurança e meio ambiente”.

Mas, discurso à parte, no frigir dos avos, consórcios Alcoa/Alumar trabalha para ter lucro. E não tem pátria. Hoje, eles estão no Maranhão. Amanhã, vão buscar outro espaço do planeta (de preferência bem atrasado politicamente) para enterrar suas toneladas de lixo. Incidentes como este na Europa servem de alerta para a chamada periferia do mundo, caso de São Luís do Maranhão, onde poder público e máfia se confundem.

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